quarta-feira, 22 de abril de 2020

MORTIFERIK - ENTREVISTA FEVEREIRO DE 2020




Essa primeira edição do Bruxa Velha Zine dá uma ênfase não voluntária ao Doom Metal. Não planejamos que a maioria das bandas entrevistadas fossem de Doom Metal, mas todas possuiam trabalhos de excelente qualidade e mereciam espaço. A entrevista que você irá ler agora apresenta um dos homens mais eloquentes e devotados ao Doom Metal de todo o Brasil. Oriundo do Rio de Janeiro, Anderson Morphis é um verdadeiro guerreiro. Mentor da incrível Mortiferik, onde expurga um Funeral Doom extremamente moribundo e melancólico, ele ainda possui um programa de Rádio na estação Soturna Sintonia e comanda outros projetos paralelos : a maioria deles, também one-man bands. Um indivíduo talentoso e poético mesmo no seu jeito de falar. Com muita honra, passamos a ele a palavra.

Bruxa Velha Zine: Saudações, Morphis! É uma honra tê-lo aqui a tecer negras palavras nas páginas do Bruxa Velha Zine. Conte um pouco sobre o surgimento da Mortiferik. Quais contextos você passava na época? Eles refletiram na sonoridade que você buscava?

Morphis – Honra toda minha em fazer parte de teus escritos amaldiçoados. Esse grimório obscuro chamado Bruxa Velha Zine. A Mortiferik surgiu de uma necessidade extrema por liberdade musical, eu estava envolvido com banda lá em 1995, com a Carnage , atual Harmony Hate, sendo que em 1998 necessitava criar um trabalho mais Doom Metal. Foi uma grande vontade que se tornou real e que com certeza seguirá até o fim de meus dias. A Melancolia sempre foi o ponto forte na construção da Mortiferik além da busca incessante pela poesia mórbida, o que sempre me chama a atenção. O obscuro alimenta os meus pensamentos e através da Mortiferik posso expelir toda essa energia que é e sempre será o que me deixa saciado. Sobre refletir na sonoridade, sim, o que eu sempre busquei foi encontrado e o fato de ser o único integrante foi o maior facilitador para que isso pudesse acontecer espontaneamente.



Bruxa Velha Zine: A Mortiferik nasceu como uma one-man band, antes mesmo de várias hordas surgirem com essa mesma proposta. Muitas delas não tocam ao vivo. Você sempre se sentiu mais à vontade com esse formato?

Morphis – A Mortiferik nunca deixará de ser no formato que sempre foi. Na minha opinião, mudar isso seria regredir. Vou me manter como one man band e levantar a bandeira do Doom Metal Obscuro até o último suspiro. Influências de outros integrantes moldam a música, transformam o trabalho. Quando se tem direcionamento apenas de um mentor, a identidade se mantém intacta e toda a construção se solidifica de uma forma natural. Inclusive já testei este fundamento pois já houve tentativas de colocar outros integrantes, porém o resultado nunca foi como esperado. A energia muda e isso já é o bastante para se manter o trabalho com um único integrante, preservando a trajetória como deve ser. Desde a fundação da Mortiferik eu sempre quis tocar ao vivo. Eu só não sabia naquela época como eu iria fazer isso, pois não tinha a prática, não possuía equipamento adequado e muito menos condições psicológicas para realizar este tipo de apresentação. Este último quesito foi o mais difícil de trabalhar desde que tive condições de pôr tudo em prática. Detalhe que durante o hiato entre os registros lançados, de 1998 (Memory) até 2012 (Agony in The Silence) eu estava me aprofundando para que o tipo de apresentação pudesse ser realizado, tanto pela parte emocional como também pelo aprendizado na música, o aperfeiçoamento. Cheguei a fazer uma apresentação, o que considero a primeira, por volta de 2006, se não me engano. Num encontro entre amigos e bandas, vindo a ser realizado em um show quando toquei no Evento Força Metal em minha cidade no ano de 2013.

Bruxa Velha Zine: Vamos falar um pouco sobre o penúltimo lançamento da Mortiferik, Empires of Sadness Returns (2013). Fale-nos um pouco sobre o processo de composição desse material e a recepção por parte dos headbangers. A Mortiferik busca ampliar seu público a cada lançamento?

Morphis – Empire of Sadness Returns foi um trabalho que obteve um resultado muito rápido em pouco tempo, pois havia relançado o primeiro registro em CD-R em novembro de 2012. Em dezembro do mesmo ano lancei o Agony in The Silence com um apanhado feito neste período de 1998 e 2012 e assim que surgiu o ano de 2013 em fevereiro eu já tinha feito toda a gravação do Empire of Sadness Returns. Tudo veio num processo rápido, foi como se as músicas estivessem presas e desesperadas para escurecer o nosso mundo. Foi a partir dessa sensação de que as amarras estavam desprendidas que a capa foi desenhada, simulando a morte se desenterrando ferozmente. “O Retorno do Império da Tristeza”. A composição deste material foi feita em momentos da minha vida onde havia muita angústia. Utilizei a música como forma de expelir tudo que se encontrava entranhado e definhando a minha essência, unindo tudo isso com minha devoção pelas trevas. Por um lado, foi uma espécie de terapia, e por outro, um avançar da minha arte para o mundo. Ao mesmo tempo que queria me conectar com o mundo sombrio me afastando daquele momento ruim também estive disposto a contemplar a arte do Doom Metal, que é o que eu mais gosto de executar em minha trajetória mortal. Lembro-me de compor e executar “Energies of Darknes” enquanto o vento frio chegava pela janela numa tarde gelada. As árvores pareciam estar sendo arrancadas lá fora e as nuvens escuras encobriam aquele dia.



“Only Agony” foi um aprofundamento de minha primeira composição, que tomou sua terceira forma amaldiçoada e permanece até hoje vagando imortal pelos salões escuros. “Death Infection” surgiu após meu encontro com um colega que estava há semanas em decomposição cadavérica. A sensação da morte era evidente perante aquele fedor extremamente devastador. « Lamentations of Lost Dreams » foi o contemplar da poesia mórbida o que se concentrou bem no iniciar do artefato. Empire of Sandness Returns é bastante aceito até hoje. Eu divulgo o material por minha conta e faço questão de confeccionar por minha conta . Gosto de estar bem próximo do trabalho e colocar a minha energia aliada às minhas músicas . Continuará sendo um trabalho ilimitado e que divulgarei sempre. Este EP sempre me trouxe consequências agradabilíssimas e eu agradeço a todos que fizeram a aquisição. Sobre ampliar o público, eu espero que sim, que a minha música se alastre pelo mundo. Porém, uma coisa mantenho sempre firme: eu gosto demais das minhas músicas e as faço com enorme prazer. O fato de outras pessoas conhecerem e gostarem é uma consequência muito agradável. Um dos meus objetivos já está alcançado, o principal deles, gostar do que faço.

Bruxa Velha Zine: "Apresentação no Ataque Underground III" é um interessantíssimo disco ao vivo, que prova que a Mortiferik não se restringiu às gravações de estúdio por ser uma one-man band. Chama atenção a qualidade de gravação e o descomunal peso que as músicas ganharam. De onde surgiu a ideia de fazer esse registro ao vivo?

Morphis – Essa ideia surgiu de um antigo desejo meu, o que sempre foi uma atividade muito apreciada nos anos 90 entre as bandas: a oportunidade de ter registrado um trabalho ao vivo. E uma das coisas que se pode encontrar é exatamente a forma como se tem mais peso, é uma sonoridade mais "orgânica". Aprecio demais e fiquei satisfeito com o resultado. Fico satisfeito que o registro te agradou! Neste ao vivo toquei músicas do “Empire of Sadness Returns” e adicionei novas composições, fazendo uma mescla sem deixar de apresentar algo novo, essa foi outra das minhas ideias.



Bruxa Velha Zine: Fale um pouco sobre os seus projetos paralelos. Por exemplo, qual a diferença em compor músicas para o “Quarto de Helena” (nota: magnífico grupo folk gótico do Morphis com sua esposa, Andressa) em relação à Mortiferik?

Morphis – Existem diferenças sim, os momentos e a característica de cada trabalho. Cada banda tem a sua essência , o seu momento e a forma como se trabalha a mente focada naquele objetivo. O « Quarto de Helena » foi um grande presente em minha trajetória pois desde o início trabalhamos livremente aliando nossas influências e produzindo com muito gosto. Estar com minha esposa Andressa nesse trabalho é importantíssimo pois a influência dela é crucial para que « O Quarto de Helena » tenha a fórmula que se mantém a cada música . E também , trabalhar com o Souza (nota: vocalista do grupo) é uma experiência fantástica pois o mesmo é extremamente talentoso e eu tenho aprendido muito com ele. Sou muito grato por isso. Além de « O Quarto de Helena » tenho um projeto numa linha medieval chamado « Bosque Lunar », onde sou único integrante assim como na Mortiferik. São intrumentais com linhas medievais que exaltam momentos de guerra aliados a momentos de festejo e também momentos atmosféricos. É algo extremamente diferente da Mortiferik, porém de muita importância para mim. Também tenho um trabalho mais antigo chamado « Harmony Hate » onde executo Death Metal. Havia uma formação completa antes, porém, com as atuais condições financeiras e de tempo, resolvi retornar como único integrante para não deixar o trabalho inativo. Já estou preparando novas músicas, em breve irei gravar e também me apresentar ao vivo como one-man band. O Metal da Morte deve continuar seu curso devastador!

Bruxa Velha Zine: A cena do Doom Metal no país inteiro sempre foi marginalizada, se comparada com outras vertentes do Metal. Aí no Rio de Janeiro, além da Mortiferik, tem mais gente fazendo Doom Metal? Quais bandas a nível nacional você destacaria?

Morphis – Realmente o Doom Metal não tem um público tão numeroso quanto  os outros estilos, mas já é uma característica de costume, digamos. O Doom Metal, se não é amado é odiado! Na realidade eu gosto que ele seja assim, aceito numa boa essa particularidade. Essa restrição já passou a ser uma particularidade do estilo no Brasil. Aqui no Rio de Janeiro existem muitas bandas Doom/Stoner, mas ainda não as conheço muito bem. Além destas temos a Silentio Mortis daqui de São Goncalo-RJ, e no Rio capital temos uma banda recente que se chama «Lua de Plutão». Sou muito apreciador das bandas Brasileiras de Doom Metal, e são inúmeras as que gosto e indico. Vou citar algumas que tenho escutado mais atualmente: Contempty (nota: com quem Morphis revelou ter novidades em breve), Dying Embrance, Mass of Souls, Nigrae Lunam, Withblood, Moriendi e Samanttha.



Bruxa Velha Zine: Quais são os planos da Mortiferik para 2020? Algum lançamento vindo por aí?

Morphis – Estou preparando novas composições para o lançamento ainda este ano, e se tudo estiver conforme planejado, vou lançar um split com a banda « Lamúrio ». Além disso estou preparando a versão de uma música do My Dying Bride, que estará junta às outras bandas brasileiras em um Tributo que deve ser lançado ainda em 2020. Farei uma apresentação em São Gonçalo -RJ no mês de março com a Mortiferik e com O Quarto de Helena. Será uma apresentação em estúdio para convidados e também iremos fazer uma vídeo conferência pelo Facebook. Em maio tocarei com a Mortiferik no Rio de Janeiro dividindo palco com a Contempty e O Quarto de Helena, um evento muito esperado e importante para mim. O restante de 2020, se sobrar tempo, haverá outras novidades à respeito da Mortiferik.  Acompanhem o Facebook da banda, as notícias serão postadas em primeira mão.

Bruxa Velha Zine: A morte enquanto essência é um tema tabu nas sociedades ocidentais, mas nem tanto nas orientais. Morphis, baseado em suas leituras e pesquisas sobre o tema e as letras da Mortiferik, como você enxerga esse fenômeno natural a todos os humanos?

Morphis – Eu tenho apreço pela morte. É algo que sempre me acompanhou desde os tempos mais remotos. Nasceu comigo e eu trato através da arte, é uma fonte inesgotável de inspiração. Na minha opinião, alguns nascem com esta inclinação para o obscuro. Trata-se de algo que já faz parte do teu ser. Aqueles que cultuam a escuridão respiram a arte desde que nascem. Não é algo que se quer ser, mas sim algo que veio ao mundo caminhando lado a lado. Enxergo tudo isso com naturalidade e mais ainda pelo fato de que a humanidade busca incessantemente saber quais são os segredos da morte.

Bruxa Velha Zine: A entrevista chegou ao seu final. Obrigado, Morphis, por sua disponibilidade e por toda sua contribuição ao Underground. Sinta-se livre para comentar algo que deseje ou ainda falar algo sobre a Mortiferik.

Morphis Eu agradeço pela oportunidade de entrevista , estou muito satisfeito pelo espaço cedido e pelas perguntas que fez ao meu trabalho com a Mortiferik e as demais. Excelente a iniciativa com o zine e desejo força total aos teus planejamentos! Pode contar comigo, com meus projetos, com a Ataque Underground Distro e o programa Sons do Apocalipse.

FORÇA DOOM METAL!!!!!!    


MORTIFERIK É :

Anderson Morphis: Todos os vocais e instrumentos.

Contato :

Facebook: https://www.facebook.com/anderson.morphis


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