quarta-feira, 22 de abril de 2020

LORD SERGULATH - ENTREVISTA FEVEREIRO DE 2020



De Limeira, pacata cidade relativamente próxima à São Paulo (capital), sopra um vento com cheiro de enxofre, quente. É de lá que se manifesta os ritos sonoros de uma horda destacável, a Lord Sergulath, veterana na cena do Black Metal old school paulista e experiente em apresentações ao vivo. A discografia, entretanto, é ainda bastante reduzida, contando com apenas uma demo autointitulada - mas não se engane - pelo que nos foi dito nessa entrevista por Diego, baterista, isso é apenas uma questão temporária. Deixemos então que ele seja o porta-voz dessas novidades infernais. 

Bruxa Velha Zine: Saudações! Primeiramente, é uma honra poder entrevistar a horda aqui no Bruxa Velha Zine! Comente um pouco sobre o nascimento da Lord Sergulath. Como vem sendo a trajetória da hora desde aquele tempo até hoje?

Diego – Primeiramente é uma honra estar participando dessa entrevista para o Bruxa Velha e estar participando desse trabalho bacana. Tudo começou lá em 2003 com o Paolo, do Thy Light, ele fazia as guitarras e os vocais, o Xua fazia o baixo e o Celso a batera. No início, a banda se chamava só Sergulath. Mas essa banda não durou muito tempo, mais ou menos uns dois, quando o Paolo saiu das guitarras e dos vocais e entrou no Desdominus. Desde então a banda acabou, e em 2014 o Xua veio me chamar para voltar a banda e fazer parte da banda, fazer a batera para eles. Achei bacana a proposta e acabei entrando na banda juntamente com o Taijasa, do Summun Heredis, que entrou fazendo vocais e guitarras. Essa formação não durou muito porque o Taijasa tava em processo de gravação com o Summun Heredis, então ele precisou se desligar. Aí entrou o Roger no vocal junto com o Dom, fazendo a guitarra. Aí com uns quatro meses de banda nós gravamos a demo com quatro músicas e logo em seguida descobrimos que havia uma banda em San Diego, na Califórnia, com o mesmo nome do Sergulath. Aí decidimos acrescentar o “Lord”, hoje até então “Lord Sergulath. Essa formação compôs mais sons, mas não gravamos. Em 2016 o Dom se desligou da banda por motivos pessoais, e desde então a banda começou a capengar. Entrava um guitarrista, ficava por um breve período, acabava saindo fora, veio outro, ficou uns oito meses, também não deu certo. A banda vinha capengando com guitarrista que entrava na banda e saia. Foi quando o Xua decidiu em 2019, no finzinho, acho que em agosto ou setembro, passar para guitarra. O problema era sempre esse, então ele comprou uma guitarra, pegou as músicas, e aí chamamos o Celso, que lá atrás, em 2003 era o batera. Aí ele começou a fazer o baixo. Chamamos o Solar, que era vocalista do Nashemah, para fazer os vocais conosco. Desde então, acho que a banda está fluindo, a gente está pensando em fazer um CD, uma gravação, está todo mundo focado, gosta das mesmas coisas, tá bem legal agora.

Bruxa Velha Zine – Vocês possuem uma demo lançada e disponível para áudio em canais voltados ao underground. Fale um pouco sobre o processo de composição e gravação desses hinos profanos. Eles foram bem recebidos pelo headbangers?



Diego – Acredito que foi bem recebido sim. Tem uma galera que nos acompanha, que gosta do som e acho que foi bem bacana. Foi bem cru, quer dizer, as músicas foram feitas em quatro meses, então foi bem rápido o negócio, então dava para ser melhor. As músicas atuais são bem melhores, são mais trabalhadas, a banda inteira na época, o Dom, o Roger, eu e o Xua, a gente amadureceu bastante em relação à composição. Em relação ao processo, geralmente o Xua, que antes era baixista e hoje é guitarrista, fazia a linha do som no baixo, vinha e trazia a música basicamente pronta e passava para mim, aí eu criava a batera em cima, consequentemente o Dom criava a guitarra em cima, e com o som pronto, bem resolvido (sempre tem uma coisinha ou outra para mexer, passar um tempo para lá, outro pra cá e tal), o Roger vinha e encaixava a letra. Basicamente é assim que são feitas as composições; alguém traz uma linha de som, passa para o outro, que encaixa sua parte e flui, cada um coloca aquilo que gosta e sente nas músicas. A gravação, quem fez foi o Celso, que hoje é o baixista. Na época ele tinha um estúdio e ele fez a gravação para gente.

Bruxa Velha Zine – Lord Sergulath vem se apresentando regularmente em bares e casas de show aí em SP. Há planos para virem profanar no Nordeste em algum momento? Já estiveram nessas terras quentes alguma vez?

Diego – Depois que a banda voltou com essa formação, nós fizemos duas apresentações: uma em várzea paulista, foi bom pra caramba, o retorno, quase um ano todo mundo parado, a gente fez um puta show com o Amen Corner, com o Bhardo, outras bandas que eu não vou me recordar agora, mas porra, foi massa pra caramba. Depois fizemos em Campinas, na Hey Bulldog, foi foda também. Hoje não temos nada planejado para o nordeste, mas seria uma honra tocar. Se surgisse um festival que desse para gente ir, seria uma baita experiência. Algum festival, algum lugar por aí, porque até então a gente só tocou dentro de São Paulo mesmo, do Estado de São Paulo. Nós nunca fomos para fora. Mas seria uma puta experiência e uma oportunidade boa de estar indo aí para o Nordeste. Sei que a cena aí é bem forte, é bem bacana. Seria legal sim. 

Bruxa Velha Zine: Fale um pouco sobre a sua visão da cena do Metal Nacional em geral. Muita coisa mudou desde o seu primeiro contato com o Underground? Quais hordas atuais você destacaria?

Diego- Eu acho que a cena é forte mas acho que falta um pouco mais de apoio. Sei lá, mais eventos. Para você ter uma ideia, aqui na cidade onde a gente mora, em Limeira, a gente nunca tocou, só tocamos em outras cidades. Aqui não tem muitos sons underground e tal. É bacana mas acho que falta mais lugares e oportunidades, ainda mais para uma horda de Black Metal como a gente, não é todo lugar que tem evento e essas coisas. Mas os poucos que tem são bacanas, a galera vai e curte, a galera que vai é quem gosta. É mais ou menos por aí. Tem bastante banda bacana. Porra, na nossa região tem muita coisa. Se eu for falar, daí deixo de falar de outra, isso acaba sendo injusto, tem muita banda bacana. Vou destacar só da nossa cidade: aqui temos o Nashemah, a banda do nosso vocalista Solar, tem o Throne of Skulls, uma banda de Death metal que o Celso tem em paralelo, o Summun Heredis, do Taijasa, tem muita banda legal na região.



Bruxa Velha Zine: Os integrantes iniciais da Lord Sergulath simpatizavam com a Quimbanda. Hoje em dia, mesmo com uma formação diferente, a banda ainda segue ou mantém esses princípios?

Diego – Sim, no início, com o Xua, o Paolo e o Celso, eles frequentavam a Quimbanda. Hoje o Celso voltou e o Xua continuou, eles ainda frequentam. Eu e o Solar simpatizamos, mas não participamos. As letras são sempre voltadas à essa ideologia, contando sobre essa religião, sobre a Quimbanda, voltado pra esse lado totalmente.

Bruxa Velha Zine: Lord Sergulath está em planejando lançar algo novo, seja demo, EP ou Full Lenght em 2020? Se sim, nos dê um pouco mais de detalhes.

Diego – Sim. Agora que a banda retornou forte com a nova formação, todo mundo focado, gostando do que faz, do estilo, a gente já tinha as músicas prontas, dez músicas prontas e a gente pensa em gravar sim esse ano, fazer um álbum novo. Eu mesmo tô desde 2014 com a banda e até hoje só com a demo por conta dos integrantes que não ficavam na banda, mas acredito que a Lord Sergulath está bem sólida hoje e a pensamos em gravar sim, um CD, uma coisa nova, pra quem não viu ou não tem, quem só viu a gente ao vivo e não tem o material físico. A gente quer gravar esse ano sim.

Bruxa Velha Zine: Com quais hordas, nacionais ou internacionais, você gostaria de dividir palco em alguma oportunidade ?

Diego – Se formos listar hordas que a gente gostaria de dividir palco seria uma infinidade, tem muita coisa. Tem muitas hordas boas por aí que a gente gosta, digamos que a gente nem tenta focar muito nisso de « ah, queríamos tocar com tal banda », como eu falei, a gente tem vontade em tocar nos festivais que tem no nordeste, tocar em outro país, na Argentina, Chile, na Colômbia, aqui do lado; tentar expandir mesmo outros ares e mostrar nosso som. Não digo bandas, tem muitas com que queríamos tocar, mas pensamos mais em tocar em outro estado aqui no Brasil, Nordeste, ou até mesmo fora, é o lado que mais focamos.



Bruxa Velha Zine: Além da Lord Sergulath, você está envolvido com outros projetos musicais ? Se sim, comente sobre eles. São diferentes ? Continuam dentro do campo do Metal ?

Diego – O Celso tem a banda paralela dele, Throne of Skulls, de Death Metal, ele tem também o Circle of Infinity, uma banda de Thrash/Death aqui da cidade, entre outras bandas. Ele também participa com a Nashemah, que tá voltando forte com o Solar no vocal, que era o original e o Celso era o batera na época, não me recordo agora, mas ele era do Nashemah também e o Xua tá fazendo o baixo pra eles. O guitarrista é o mesmo do Throne of Skulls, que toca junto com o Celso. São os projetos paralelos. Eu hoje só toco com o Lord Sergulath, mesmo.

Bruxa Velha Zine: A entrevista está chegando ao fim, se sinta livre para tecer um comentário aos leitores ou algo que ainda ache necessário dizer sobre a Lord Sergulath.

Diego – Bom, acredito que pra quem já conhece a banda e nosso som, tenho que agradacer pela compania, pela força que sempre deram, mesmo nesse problema sério da falta de integrantes, mas agora a banda tá forte e focada e em breve sairá um cd, um material novo pra galera curtir.  //



LORD SERGULARH É :

Solar : vocais
Xua : Guitarras
Celso : Baixo
Diego : Bateria

Contato :

https://www.facebook.com/pages/category/Musician-Band/Lord-Sergulath-752756698111516/


soundcloud.com/sergulath-black-metal

MORTIFERIK - ENTREVISTA FEVEREIRO DE 2020




Essa primeira edição do Bruxa Velha Zine dá uma ênfase não voluntária ao Doom Metal. Não planejamos que a maioria das bandas entrevistadas fossem de Doom Metal, mas todas possuiam trabalhos de excelente qualidade e mereciam espaço. A entrevista que você irá ler agora apresenta um dos homens mais eloquentes e devotados ao Doom Metal de todo o Brasil. Oriundo do Rio de Janeiro, Anderson Morphis é um verdadeiro guerreiro. Mentor da incrível Mortiferik, onde expurga um Funeral Doom extremamente moribundo e melancólico, ele ainda possui um programa de Rádio na estação Soturna Sintonia e comanda outros projetos paralelos : a maioria deles, também one-man bands. Um indivíduo talentoso e poético mesmo no seu jeito de falar. Com muita honra, passamos a ele a palavra.

Bruxa Velha Zine: Saudações, Morphis! É uma honra tê-lo aqui a tecer negras palavras nas páginas do Bruxa Velha Zine. Conte um pouco sobre o surgimento da Mortiferik. Quais contextos você passava na época? Eles refletiram na sonoridade que você buscava?

Morphis – Honra toda minha em fazer parte de teus escritos amaldiçoados. Esse grimório obscuro chamado Bruxa Velha Zine. A Mortiferik surgiu de uma necessidade extrema por liberdade musical, eu estava envolvido com banda lá em 1995, com a Carnage , atual Harmony Hate, sendo que em 1998 necessitava criar um trabalho mais Doom Metal. Foi uma grande vontade que se tornou real e que com certeza seguirá até o fim de meus dias. A Melancolia sempre foi o ponto forte na construção da Mortiferik além da busca incessante pela poesia mórbida, o que sempre me chama a atenção. O obscuro alimenta os meus pensamentos e através da Mortiferik posso expelir toda essa energia que é e sempre será o que me deixa saciado. Sobre refletir na sonoridade, sim, o que eu sempre busquei foi encontrado e o fato de ser o único integrante foi o maior facilitador para que isso pudesse acontecer espontaneamente.



Bruxa Velha Zine: A Mortiferik nasceu como uma one-man band, antes mesmo de várias hordas surgirem com essa mesma proposta. Muitas delas não tocam ao vivo. Você sempre se sentiu mais à vontade com esse formato?

Morphis – A Mortiferik nunca deixará de ser no formato que sempre foi. Na minha opinião, mudar isso seria regredir. Vou me manter como one man band e levantar a bandeira do Doom Metal Obscuro até o último suspiro. Influências de outros integrantes moldam a música, transformam o trabalho. Quando se tem direcionamento apenas de um mentor, a identidade se mantém intacta e toda a construção se solidifica de uma forma natural. Inclusive já testei este fundamento pois já houve tentativas de colocar outros integrantes, porém o resultado nunca foi como esperado. A energia muda e isso já é o bastante para se manter o trabalho com um único integrante, preservando a trajetória como deve ser. Desde a fundação da Mortiferik eu sempre quis tocar ao vivo. Eu só não sabia naquela época como eu iria fazer isso, pois não tinha a prática, não possuía equipamento adequado e muito menos condições psicológicas para realizar este tipo de apresentação. Este último quesito foi o mais difícil de trabalhar desde que tive condições de pôr tudo em prática. Detalhe que durante o hiato entre os registros lançados, de 1998 (Memory) até 2012 (Agony in The Silence) eu estava me aprofundando para que o tipo de apresentação pudesse ser realizado, tanto pela parte emocional como também pelo aprendizado na música, o aperfeiçoamento. Cheguei a fazer uma apresentação, o que considero a primeira, por volta de 2006, se não me engano. Num encontro entre amigos e bandas, vindo a ser realizado em um show quando toquei no Evento Força Metal em minha cidade no ano de 2013.

Bruxa Velha Zine: Vamos falar um pouco sobre o penúltimo lançamento da Mortiferik, Empires of Sadness Returns (2013). Fale-nos um pouco sobre o processo de composição desse material e a recepção por parte dos headbangers. A Mortiferik busca ampliar seu público a cada lançamento?

Morphis – Empire of Sadness Returns foi um trabalho que obteve um resultado muito rápido em pouco tempo, pois havia relançado o primeiro registro em CD-R em novembro de 2012. Em dezembro do mesmo ano lancei o Agony in The Silence com um apanhado feito neste período de 1998 e 2012 e assim que surgiu o ano de 2013 em fevereiro eu já tinha feito toda a gravação do Empire of Sadness Returns. Tudo veio num processo rápido, foi como se as músicas estivessem presas e desesperadas para escurecer o nosso mundo. Foi a partir dessa sensação de que as amarras estavam desprendidas que a capa foi desenhada, simulando a morte se desenterrando ferozmente. “O Retorno do Império da Tristeza”. A composição deste material foi feita em momentos da minha vida onde havia muita angústia. Utilizei a música como forma de expelir tudo que se encontrava entranhado e definhando a minha essência, unindo tudo isso com minha devoção pelas trevas. Por um lado, foi uma espécie de terapia, e por outro, um avançar da minha arte para o mundo. Ao mesmo tempo que queria me conectar com o mundo sombrio me afastando daquele momento ruim também estive disposto a contemplar a arte do Doom Metal, que é o que eu mais gosto de executar em minha trajetória mortal. Lembro-me de compor e executar “Energies of Darknes” enquanto o vento frio chegava pela janela numa tarde gelada. As árvores pareciam estar sendo arrancadas lá fora e as nuvens escuras encobriam aquele dia.



“Only Agony” foi um aprofundamento de minha primeira composição, que tomou sua terceira forma amaldiçoada e permanece até hoje vagando imortal pelos salões escuros. “Death Infection” surgiu após meu encontro com um colega que estava há semanas em decomposição cadavérica. A sensação da morte era evidente perante aquele fedor extremamente devastador. « Lamentations of Lost Dreams » foi o contemplar da poesia mórbida o que se concentrou bem no iniciar do artefato. Empire of Sandness Returns é bastante aceito até hoje. Eu divulgo o material por minha conta e faço questão de confeccionar por minha conta . Gosto de estar bem próximo do trabalho e colocar a minha energia aliada às minhas músicas . Continuará sendo um trabalho ilimitado e que divulgarei sempre. Este EP sempre me trouxe consequências agradabilíssimas e eu agradeço a todos que fizeram a aquisição. Sobre ampliar o público, eu espero que sim, que a minha música se alastre pelo mundo. Porém, uma coisa mantenho sempre firme: eu gosto demais das minhas músicas e as faço com enorme prazer. O fato de outras pessoas conhecerem e gostarem é uma consequência muito agradável. Um dos meus objetivos já está alcançado, o principal deles, gostar do que faço.

Bruxa Velha Zine: "Apresentação no Ataque Underground III" é um interessantíssimo disco ao vivo, que prova que a Mortiferik não se restringiu às gravações de estúdio por ser uma one-man band. Chama atenção a qualidade de gravação e o descomunal peso que as músicas ganharam. De onde surgiu a ideia de fazer esse registro ao vivo?

Morphis – Essa ideia surgiu de um antigo desejo meu, o que sempre foi uma atividade muito apreciada nos anos 90 entre as bandas: a oportunidade de ter registrado um trabalho ao vivo. E uma das coisas que se pode encontrar é exatamente a forma como se tem mais peso, é uma sonoridade mais "orgânica". Aprecio demais e fiquei satisfeito com o resultado. Fico satisfeito que o registro te agradou! Neste ao vivo toquei músicas do “Empire of Sadness Returns” e adicionei novas composições, fazendo uma mescla sem deixar de apresentar algo novo, essa foi outra das minhas ideias.



Bruxa Velha Zine: Fale um pouco sobre os seus projetos paralelos. Por exemplo, qual a diferença em compor músicas para o “Quarto de Helena” (nota: magnífico grupo folk gótico do Morphis com sua esposa, Andressa) em relação à Mortiferik?

Morphis – Existem diferenças sim, os momentos e a característica de cada trabalho. Cada banda tem a sua essência , o seu momento e a forma como se trabalha a mente focada naquele objetivo. O « Quarto de Helena » foi um grande presente em minha trajetória pois desde o início trabalhamos livremente aliando nossas influências e produzindo com muito gosto. Estar com minha esposa Andressa nesse trabalho é importantíssimo pois a influência dela é crucial para que « O Quarto de Helena » tenha a fórmula que se mantém a cada música . E também , trabalhar com o Souza (nota: vocalista do grupo) é uma experiência fantástica pois o mesmo é extremamente talentoso e eu tenho aprendido muito com ele. Sou muito grato por isso. Além de « O Quarto de Helena » tenho um projeto numa linha medieval chamado « Bosque Lunar », onde sou único integrante assim como na Mortiferik. São intrumentais com linhas medievais que exaltam momentos de guerra aliados a momentos de festejo e também momentos atmosféricos. É algo extremamente diferente da Mortiferik, porém de muita importância para mim. Também tenho um trabalho mais antigo chamado « Harmony Hate » onde executo Death Metal. Havia uma formação completa antes, porém, com as atuais condições financeiras e de tempo, resolvi retornar como único integrante para não deixar o trabalho inativo. Já estou preparando novas músicas, em breve irei gravar e também me apresentar ao vivo como one-man band. O Metal da Morte deve continuar seu curso devastador!

Bruxa Velha Zine: A cena do Doom Metal no país inteiro sempre foi marginalizada, se comparada com outras vertentes do Metal. Aí no Rio de Janeiro, além da Mortiferik, tem mais gente fazendo Doom Metal? Quais bandas a nível nacional você destacaria?

Morphis – Realmente o Doom Metal não tem um público tão numeroso quanto  os outros estilos, mas já é uma característica de costume, digamos. O Doom Metal, se não é amado é odiado! Na realidade eu gosto que ele seja assim, aceito numa boa essa particularidade. Essa restrição já passou a ser uma particularidade do estilo no Brasil. Aqui no Rio de Janeiro existem muitas bandas Doom/Stoner, mas ainda não as conheço muito bem. Além destas temos a Silentio Mortis daqui de São Goncalo-RJ, e no Rio capital temos uma banda recente que se chama «Lua de Plutão». Sou muito apreciador das bandas Brasileiras de Doom Metal, e são inúmeras as que gosto e indico. Vou citar algumas que tenho escutado mais atualmente: Contempty (nota: com quem Morphis revelou ter novidades em breve), Dying Embrance, Mass of Souls, Nigrae Lunam, Withblood, Moriendi e Samanttha.



Bruxa Velha Zine: Quais são os planos da Mortiferik para 2020? Algum lançamento vindo por aí?

Morphis – Estou preparando novas composições para o lançamento ainda este ano, e se tudo estiver conforme planejado, vou lançar um split com a banda « Lamúrio ». Além disso estou preparando a versão de uma música do My Dying Bride, que estará junta às outras bandas brasileiras em um Tributo que deve ser lançado ainda em 2020. Farei uma apresentação em São Gonçalo -RJ no mês de março com a Mortiferik e com O Quarto de Helena. Será uma apresentação em estúdio para convidados e também iremos fazer uma vídeo conferência pelo Facebook. Em maio tocarei com a Mortiferik no Rio de Janeiro dividindo palco com a Contempty e O Quarto de Helena, um evento muito esperado e importante para mim. O restante de 2020, se sobrar tempo, haverá outras novidades à respeito da Mortiferik.  Acompanhem o Facebook da banda, as notícias serão postadas em primeira mão.

Bruxa Velha Zine: A morte enquanto essência é um tema tabu nas sociedades ocidentais, mas nem tanto nas orientais. Morphis, baseado em suas leituras e pesquisas sobre o tema e as letras da Mortiferik, como você enxerga esse fenômeno natural a todos os humanos?

Morphis – Eu tenho apreço pela morte. É algo que sempre me acompanhou desde os tempos mais remotos. Nasceu comigo e eu trato através da arte, é uma fonte inesgotável de inspiração. Na minha opinião, alguns nascem com esta inclinação para o obscuro. Trata-se de algo que já faz parte do teu ser. Aqueles que cultuam a escuridão respiram a arte desde que nascem. Não é algo que se quer ser, mas sim algo que veio ao mundo caminhando lado a lado. Enxergo tudo isso com naturalidade e mais ainda pelo fato de que a humanidade busca incessantemente saber quais são os segredos da morte.

Bruxa Velha Zine: A entrevista chegou ao seu final. Obrigado, Morphis, por sua disponibilidade e por toda sua contribuição ao Underground. Sinta-se livre para comentar algo que deseje ou ainda falar algo sobre a Mortiferik.

Morphis Eu agradeço pela oportunidade de entrevista , estou muito satisfeito pelo espaço cedido e pelas perguntas que fez ao meu trabalho com a Mortiferik e as demais. Excelente a iniciativa com o zine e desejo força total aos teus planejamentos! Pode contar comigo, com meus projetos, com a Ataque Underground Distro e o programa Sons do Apocalipse.

FORÇA DOOM METAL!!!!!!    


MORTIFERIK É :

Anderson Morphis: Todos os vocais e instrumentos.

Contato :

Facebook: https://www.facebook.com/anderson.morphis


https://www.facebook.com/mortiferik/?eid=ARBeJBPMlH7dv0ErBdvQaSZuuy38CHxCoU1Ospg32oT_YgQfngCywV8IwLscU-_nkNf88rG0Tt8KNuvS&timeline_context_item_type=intro_card_work&timeline_context_item_source=100002333378861&fref=tag

KRULL - ENTREVISTA FEVEREIRO DE 2020




Ah, o Heavy Metal tradicional. Uma das expressões mais duradouras e poderosas da história da música se mostra ainda muito forte no mundo e também aqui no Brasil. O Bruxa Velha Zine teve a chance e a honra de entrevistar um dos grandes representantes do estilo em toda a América Latina e que chamava a atenção da equipe da velha feiticeira antes mesmo do zine ser fundado. Estamos falando dos guerreiros impiedosos da Krull.  Passamos a palavra para o grande vocalista Luis Carlos Domingos.

Bruxa Velha Zine: Saudações, Luis! Como vai? O Heavy Metal da Krull já tem mais de 20 anos e fica cada vez mais forte e vigoroso. Poderia falar sobre a trajetória do grupo, como os contextos do início do grupo lá em 1998 e as formações?

Luis – Saudações, pessoal do Bruxa Velha Zine! Muito obrigado por conceder esse espaço para a gente estar mostrando o nosso humilde trabalho de 21 anos. A banda foi formada em 1998 por mim e pelo Tony Fernandes, que era o guitarrista da banda, falecido em outubro do ano passado nos EUA em São Francisco, Califórnia, devido a um trágico acidente de carro, uma grande lástima e perda pra gente. Então, de lá para cá tivemos diversas formações. A trajetória do grupo é bem complexa, ampla. Passamos por muitas dificuldades nesses 21 anos, muitas formações, muitos shows, levamos muitas “pedradas”, mas como o Heavy Metal sempre sobreviveu a tantas coisas, tantos modismos, tantas dificuldades, pelo espaço escasso que temos no Brasil, a gente pôde dar a volta por cima e seguir nosso caminho apesar das dificuldades e das barreiras que a vida e toda a mídia impôs contra a banda. Tivemos diversas formações desde 98 quando começamos, eu, o Tony, o Eduardo Morais no baixo e o Walter Alves na bateria, éramos um quarteto. Pudemos gravar depois de alguns ensaios. Fizemos alguns shows esporádicos na região do interior de São Paulo, nas cidades de Itu, Sorocaba, a 80 km da capital. A gente começou a compor as primeiras músicas que fariam parte da demo-EP e então em 2003 entramos em estúdio para gravá-la, intitulada “Warrior Angel”, com uma temática na mesma linha que usamos até hoje, pagã, com contextos de batalhas medievais, épicas, como sempre foi o forte da banda. Infelizmente não tivemos muito êxitos com as formações, o line-up da banda, devido a alguns problemas pessoais de alguns músicos, como a falta de comprometimento, mesmo falta de profissionalismo. Sei que é chato e antiético dizer isso, mas no Brasil é muito difícil poder fazer Heavy Metal, principalmente descolar músicos que se proponham a fazer esse tipo de música que vai totalmente contra o mainstream que a mídia impõe. Mas ainda há um público muito bom no Heavy Metal que se propõe a fazer esse trabalho no Brasil. Tivemos dificuldades para estabilizar uma formação, e então em 2003 gravamos o 1º EP. Tinha um som meio diferente dos dias atuais, um vocal mais limpo, linhas de guitarra mais melodiosas, um power metal melódico na linha das bandas Helloween, Stratovarius, Angra, Viper com o Soldiers of Sunrise. Tentamos fazer o primeiro EP nessa linha. 



Em 2005 gravamos um novo EP intitulado Promised Land, independentes ambos os EPs, que também seguem a mesma temática e pegada, com os vocais limpos. No youtube, pra quem quiser procurar, tem alguns sons lá. No início nos chamávamos Suprema. Após algumas formações, em 2001, nos tornamos Eternal Fate, nome concretizado até 2015, onde alteramos novamente o nome para Krull em respeito aos ex-integrantes que passaram pela banda. Em 2010 gravamos um terceiro EP, o de maior sucesso na nossa história, intitulado Metal Swords and Fire. Esse ep foi lançado de forma independente e somente em 2014 conseguimos um relançamento pela gravadora italiana Heart of Steel Records, de Lonigo, Vincenza. Eles apostaram nesse último EP e teve uma ótima repercussão mundial e assinamos contrato em 2014. O EP foi lançado em mais de 100 países mas apenas em forma digital, pra streaming, em plataformas como spotify, deezer, amazon... conseguimos uma repercussão maior no exterior e despertamos o interesse de algumas gravadoras de outros países, como a Alone Records da Grécia (que inclusive lançou o Metaltex de Osasco, uma grande banda e irmãos que sempre correram conosco) e diversas outras bandas. Ela nos ofereceu uma proposta de relançar o EP em formato de CD e LP. Houve também a gravadora Iron Shield do Thomas Dargel, Alemanha, que nos ofereceu uma proposta melhor e maior. Demos então prioridade e assinamos contrato em 2016.

Bruxa Velha Zine: Luis, a Krull possui uma discografia onde se destacam o EP Metal Swords and Fire (2016) e o poderoso álbum The Black Coast (2018). Conte um pouco sobre a importância desses registros para a história da Krull.

Luis – Como Krull, possuímos o Metal Swords and Fire, lançados pela Heart of Steel Records, e o the Black Coast lançado pela Iron Shield Records. O primeiro foi lançado em 2010 ainda como Eternal Fate e de forma independente, então houve poucas tiragens, não foi tão bem repercutido aqui no Brasil por isso. A situação financeira muito difícil... a gente fez mais para venda nos shows e algumas lojas parceiras aqui na região de Itu, assim como São Paulo, Campinas, Sorocaba. Quando lançamos para download, houve interesse da Heart of Steel Records, The Fox Steel Records na época, do Mirko Galiazzo. Ele nos ofereceu um contrato para relançar o EP e isso aconteceu em 2014. Mas apenas em 2016 ficou visível para download em plataformas digitais para mais de 100 países, já sob o nome da Krull. Houve uma repercussão muito grande, chamou o interesse de outras gravadoras, como eu já disse: a Alone Records, da Grécia e a Iron Shield Records. Também interessou a Skol Records do Bart Gabriel, Polônia, e uma outra que não lembro. Escolhemos a Iron Shield pela proposta ser melhor. Metal Swords and Fire é um divisor de águas, pois além de vir com o nome Krull mundialmente, deixou de lado os vocais melódicos dos dois primeiros EPs. Foi também a primeira vez que assinamos contrato com uma gravadora do exterior. Além disso, também há uma temática que foca mais sobre a época Hiboriana, nos contos do Robert Howard (criador do Conan, o Bárbaro, Salomão Kane, Kull, o Conquistador). O som era mais vigoroso e mais tradicional. Os drives de vocais, o rasgado na linha do Accept, do Udo Dirkschneider e Grave Digger, Chris Boltendahl, um drive mais grave e rasgado. É um disco que temos orgulho de ter feito.
Já o The Black Coast surgiu já com o contrato com a Iron Shield. Eles queriam um full-lenght. O álbum é todo conceitual, baseado na história Queen of the Black Coast, do Robert Howard (1929). Repaginamos a história com nossas palavras e o álbum descreve as aventuras do rei Baltus. A gente sabia que havia direitos autorais sobre essa obra, então resolvemos privar e colocar nomes fictícios, que também existiam nos contos do Robert, que retratavam a era hiboriana (de 10.000 a.C). Esse álbum consolidou nosso nome aqui no Brasil e lá fora com ótimas críticas por parte da mídia especializada, da Roadie Crew, da revista Valhalla, da Rock Brigade, e as de fora, como a Burn! do Japão. A história do Rei Baltus, que governa sete reinos, permeia o conceito: no início do disco ele conversa com a bruxa e ela retorna como já tivessem se encontrado. 



Criamos as vozes do rei e da Bruxa Taramis, que rapta o Crom, filho do Baltus, e o leva para a costa negra. O guerreiro tem de atravessar a Estígia, a Hercânia, todos os locais por onde o Conan passou com o exército para poder resgatar o filho e derrotar a Taramis, irmã da Salomé. Cada faixa trata sobre uma aventura do rei, sua devoção pelo aço e pelas espadas, os exércitos que ele compõe para resgatar o filho, os mortais que ajudam na batalha. As duas últimas músicas, Stand Fight to Kill e The Black Coast representam o final trágico da Bruxa, até há um grito quando ela morre (risos). Ele resgata o Crom mas morre nos braços do filho, que herda os reinos e continua o legado do pai. O disco foi lançado em CD e Vinil e distribuído em mais de 150 países pela Iron Shield, um grande feito e conquista para nós.  

Bruxa Velha Zine: Qual composição da Krull você indicaria para alguém que ainda não teve contato com a tua música?

Luis – Bom, eu indicaria duas músicas que retratam muito bem a banda: “Metal Swords and Fire”, uma música bem legal, bem positiva, tem uma atmosfera densa e mórbida, mas a letra se encaixa nas dificuldades do nosso dia a dia, o que ele fala na batalha podemos retratar no dia-a-dia, quando acordamos e vamos trabalhar pra trazer o pão pra casa, pra família e filhos, e apesar das dificuldades, desemprego ou problemas como enfermidades ou perdas de entes queridos, qualquer problema pessoal, familiar ou sentimental que estejamos passando, essa letra retrata que somos capazes de sair disso, então é algo bonito, e indicaria essa música. A outra é a “Stand Fight to Kill”, a penúltima do “The Black Coast”, porque ela diz “Permaneça, fique e lute para matar”, ou seja, todos os dias nós morremos, saímos de casa pra trabalhar, muita gente é assassinada, roubada, boicotada, assaltada. Todos os dias temos dificuldades no transito, na vida familiar, sentimental, na saúde, problemas socioeconômicos que vivemos no nosso país e nas nossas vidas. Essa música diz que é possível romper essas barreiras, que quando queremos muito algo somos capazes de chegar até lá. Poderia ser o tema do álbum, mas tivemos de colocar outro título por se tratar da história do Robert Howard. Mas se tivesse um outro nome seria “Stand Fight to Kill”. Se erguer e lutar para matar. Todos os dias nós matamos muitas pessoas lá fora, a gente mata vidas para trazer as coisas para casa, essa é a verdade. Muita gente só pensa no próprio interesse, no próprio ego, então se você também não pensar em você e na sua família, você fica para trás, porque o mais forte sempre se sobressai, passa por cima, então por mais que sejamos fracos temos que transformar e codificar essa fraqueza numa força maior que vem de dentro de nós, a capacidade, a determinação, a perseverança de que nós conseguiremos coisas melhores para as nossas vidas. A Stand Fight to Kill tem uma letra de superação, positividade. Por mais que os tempos sejam difíceis, é possível conseguir chegar até lá e ultrapassar os limites.

Bruxa Velha Zine: O Heavy Metal tradicional nunca foi tão popular no cenário underground brasileiro, onde na maioria das vezes bandas mais extremas se destacam. Em 20 anos de carreira, o que te levou a nadar contra a maré e se manter fiel ao estilo?

Luis – Eu tô completando no dia 23 do próximo mês 40 anos. Eu nasci em 1980, não fui adolescente nos anos 80 mas quando eu tinha 7 ou 8 anos tava ouvindo Scorpions, Europe, Whitesnake, Iron Maiden, o Seventh Son of a Seventh Son, de 88, então, sempre acompanhei o rock e o heavy metal dos anos 80, sou um grande fã dessa época, nas roupas, nos cabelos, filmes, até os desenhos, até hoje acompanho isso. Os dias de hoje pra mim são inúteis, eu não acompanho nada do que aparece hoje, seja na música, nos filmes, uma coisa ou outra a gente consegue digerir ou filtrar, mas são coisas que eu não consigo aceitar para a minha pessoa, para a minha natureza. Então, estou preso nos anos 80... embasado nisso, eu vi com o passar dos anos, final dos anos 80 e início dos 90, o Sarcófago e muitas bandas de Death e Thrash Metal se consolidaram na cena nacional, divulgando um som mais extremo. Mas tudo na vida é passageiro – hoje ainda há bandas de Thrash e Death Metal se consolidando no cenário e isso é muito bom para o Brasil, eleva o nome do país no Heavy Metal, significa que aqui o Metal ainda não morreu como nos Estados Unidos, onde a cena ficou bem fraca. Desde quando eu era adolescente eu sempre acreditei que o Heavy Metal tradicional, o precursor e pai do Thrash, do Death, do Black Metal, se sobressairia sobre todos esses estilos que foram criados depois. 



Porque se você vir uma árvore genealógica do metal vai ver que a raiz está lá no Stoner, no Heavy Tradicional e cru que o Black Sabbath fez nos anos 70. Até no Helter Skelter dos Beatles em 69, já tava vindo algo pesado, maior, mais denso, coeso. Acredito muito que a forma que o Sabbath usou nos anos 70, bem crua, se sobressairia e daria frutos. Foi o que houve. Depois disso veio o progressivo, no final dos anos 70 e início dos anos 80 e o resto que todos conhecem, Thrash Metal, Power Metal, Death Metal, Black Metal, Doom, Gothic... mas o Heavy Metal se manteve firme. Sempre fui aficionado por isso até hoje. Ensino para os meus filhos que o que vem lá de trás é verdadeiro, meus pais me ensinaram isso com as coisas dos anos 60, 70, como Aretha Franklin, Billie Holliday, lances do Blues, Jazz, R&B. A música quando tem feeling e sentimento, nada vai contra isso. Respeito os outros estilos, amo Thrash Metal, gosto muito de Death Metal, ouço algumas bandas e ouvi muito na minha adolescência, até o Black Metal, ouvi muito. Tenho muitos amigos que participam de bandas. Eu acredito que o Metal é um só, como o Chuck Schuldiner disse: “Black Metal, Epic Metal, Thrash Metal, Power Metal, tirem a primeira palavra e vai sobrar uma só, Metal”. Isso é muito verdadeiro e o que me levou a ficar íntegro, obsoleto, coeso no HM tradicional é esse lance da NWOBHM, anos 80... foi isso que a Krull apostou e levamos até o fim. 

Bruxa Velha Zine: Falemos um pouco sobre o vindouro segundo álbum « Return of the Witch ». Como está sendo o processo de gravação e composição?

Luis – O Return of the Witch é o sucessor do The Black Coast, ainda está em processo de gravação das primeiras músicas. Estive conversando com o Thomas, o Boss da Iron Shield, nosso manager, há duas semanas atrás. Enviei um trecho de uma música e ele gostou muito. Ele traz uma continuação da primeira história ; O Rei Baltus morre ao ser atingido por uma flecha disparada por um dos espectros da bruxa e o Crom assume tudo. No Return of the Witch retratamos a segunda parte dessa história. A Bruxa Taramis não morre, ela retorna. Ela tem uma irmão gêmea chamada Salomé. O conceito é baseado em outro conto de 1932 do mestre Robert Howard, publicado numa revista antes dele cometer suicídio, chamado « A Witch Shall Reborn ». Para não pôr o mesmo nome no álbum por direitos autorais, escolhemos The Return of the Witch. O processo de gravação está sendo concluído. O processo de composição, todas as faixas, todas as letras, todas as músicas fui eu quem compus, tanto no primeiro como no segundo. A arte da capa está sendo finalizada por um ilustrador renomado aqui do Brasil, que desenha HQs. Ele é do Rio Grande do Sul e tá fazendo essa capa. A capa do primeiro álbum quem fez foi o Fabiano Barbosa, da banda Battalion, de Santa Catarina, grande brother, acompanho muito o trabalho dele. Posso adiantar que vai ser uma capa matadora nos moldes dos gibis antigos do Conan dos anos 80. As músicas vão ser nos moldes do The Black Coast mas com uma pegada mais Heavy Tradicional. O primeiro tem uma pegada de batera mais acelerada, tem umas pitadas de Power. Agora vai ficar mais calcado no Metal oitentista, que é a nossa pegada e a da gravadora... tenho certeza que agradará muito os fãs e será um ótimo álbum.

Bruxa Velha Zine: Krull chegou a conseguir o segundo lugar no Wacken Metal Battle Brasil, em 2011. Um feito realmente admirável. Poderia nos falar algo sobre essa experiência ?

Luis – Em 2010 a gente gravou o Metal Swords and Fire de forma independente. Nos candidatamos para o Wacken Metal Battle Brasil em 2011, organizado e realizado pela Roadie Crew, e quando enviamos nosso CD para a revista, fomos escolhidos entre mais de 500 bandas de todo o Brasil para fazer parte desse festival renomado. Caímos na seletiva de Campinas, então pudemos disputar o festival com diversas bandas. O corpo de júri era o Ricardo Batalha da Roadie Crew, os redatores e colunistas da revista, pessoas renomadas no cenário. Obtivemos o segundo lugar no fest, perdendo apenas para uma banda de Campinas de Thrash Metal chamada Kamala, grandes amigos nossos. Não sei se estão em atividade, creio que sim, eles fizeram até uma tour. Ficamos em segundo lugar graças ao Batalha, ao Vulcano da Hellish War, um grande amigo meu. Até em 2012, quando o Roger Hammer deixou a Hellish War, eles me chamaram pra cantar. Eu tava na banda Brave na época, de Power Metal. Me convidaram, eu fiz um teste e fiquei em 2º lugar. Uma moça, que ganhou o 1º, fez um show e não conseguia cantar porque estava acostumada com o ambiente de barzinhos. Ao cantar heavy metal num festival grande ela estranhou, e eles foram atrás de mim. Na segunda vez eu tinha acabado de gravar o « The Last Battle », com o Brave, e preferi ficar por lá mesmo por não terem chamado pela primeira vez (risos). Não que eu fiquei chateado, mas desiludi daquilo. Mas até tem no youtube uma música que gravei com eles para fazer o teste. O WMB abriu muitas portas pra gente no Brasil, foi um grande feito e relembramos até hoje o cartaz com o nome Eternal Fate, foi muito bacana fazer parte desse festival e dessa história do Metal Nacional e paulista, uma experiência única e ímpar.

Bruxa Velha Zine: Fale um pouco sobre os planos da Krull para 2020. Existe chance da banda vir tocar no Nordeste, por exemplo? Ou fazer alguma gira pela Europa?

Luis – Os planos para 2020 são focar nas gravações do novo álbum, que vai sair pela Iron Shield em mais de 150 países incluindo a Ásia. No último disco fomos bem cotados no Japão, houve grandes críticas construtivas e positivas inclusive na revista Burn !. Focaremos em lançar o álbum e depois fazer uma mini-tour no Brasil, aqui em São Paulo, por cidades do interior como Itapetininga, Sorocaba, Indaiatuba, Osasco, a gente tem algumas propostas em Minas Gerais e no Paraná, alguns amigos nossos, e até no Rio Grande do Sul com o Flávio Leviaethan, do Leviaethan, mais de 35 anos de Thrash e Black Metal. Existem sim chances para tocarmos no nordeste, inclusive tem uma agência de booking voltada para bandas de metal underground no Brasil que enviou uma mensagem para fecharmos um contrato com eles : pagaremos um valor e fecharemos uma tour no nordeste. Não recordo o nome, não sei se é Restless Booking Agence ou algum outro. Mas seria uma grande honra, nunca tocamos por aí e sabemos que tem gente que gosta do nosso trabalho, vira e mexe recebemos mensagem de pessoas do Norte comprando Vinil, CD, nos dias de hoje e ficamos bem felizes. Não são milhares, são algumas pessoas, mas a qualidade vale mais que a quantidade pra nós. Isso é bacana, ficamos felizes por admirarem nosso trabalho. Quanto a gira na Europa, desde 2012 recebemos uma proposta, quando eu ainda estava na Brave, quando lançamos o « The Last Battle ». Agora com o The Black Coast, estava programada uma turnê europeia em 2019, organizada pela Iron Shield. Infelizmente com os incêndios que houveram no hemisfério norte, fez um calor intenso, então muitos shows foram cancelados. O Thomas enviou uma mensagem dizendo para esperarmos mais um pouco para que pudessemos lançar o novo álbum ; uma vez que o anterior já havia nos aberto portas, o próximo consolidaria nossa imagem ainda mais por lá. Então em 2021, talvez haja uma grande possibilidade de uma turnê pela europa em 12 países junto com o Revenge, uma banda colombiana de Thrash Metal, no verão europeu (nosso inverno), entre junho e julho, onde acontecem os melhores festivais de metal.

Bruxa Velha Zine: A Krull fez lançamentos em vinil e CD. Materiais belíssimos, devo mencionar. Mas Luis, o que você pensa sobre a forma de consumir música atualmente ? Acha que ainda é válido para uma banda iniciante investir em materiais físicos ?

Luis – A gente fez os lançamentos do The Black Coast em vinil, cd e streaming. Muito obrigado pelos elogios, são realmente materiais muito bonitos! O que eu penso sobre a forma de consumir música no cenário atual é que é algo bem difícil. Com todo esse aparato da modernidade, da tecnologia de downloads e streaming, as plataformas digirais que vieram para ajudar, mas ao mesmo tempo, como nós somos amantes do material físico, parece que também para destruir. Tem muitas pessoas que amam, outras que odeiam. Além de proporcionar uma « ajuda », parece que veio pra boicotar o que é físico. Tudo vai do direcionamento, da visão. Quando veio essas plataformas de streaming e download pra baixar música no celular, notebook, fez com que as vendas caíssem, não só o CD mas principalmente as de vinil, que tava bem escasso e agora voltou. Então para os amantes do material físico é complexo. Acho que as grandes bandas no mundo vivem mais dos downloads e dos shows do que dos materiais físicos propriamente ditos, vendas de CDs. Tenho alguns amigos que têm loja no interior de São Paulo e eles me disseram que numa porcentagem, numa escala de 0 à 100 de vendagem de discos físicos, tudo caiu muito de 5 anos pra cá devido aos downloads. Os jovens hoje, ao invés de adquirirem o material de uma banda que ele gosta ou que quer conhecer, ele prefere entrar pela plataforma digital e baixar, pagar algum valor pelo cartão de crédito, paypal, seja lá o que for, e ter no celular, no notebook, ao invés de ir na loja e comprar o CD. Mas ainda há os « trues » que gostam de ter o material físico. Somos testemunhas, pois gostamos disso. É interessante ter a música baixada no celular mas nada melhor do o físico. Você ter o encarte, as fotos, o trabalho bonito, decorado, em acrílico ou digipak, conhecer as músicas e depois ir num show da banda, cantar junto, conhecer o grupo pessoalmente, isso é maravilhoso. 




O digital não paga isso. Vejo um cenário musical muito escasso na forma de consumir as músicas. Não sei se é tão válido hoje uma banda iniciante investir em materiais físicos. Tenho alguns amigos de Sorocaba que eu consegui ajudar as bandas a partir de uma mini-agência que eu criei, a Still Metal Press, e os coloquei lá na Heart of Steel Records do Mirko, tenho uma parceria com ele pra que ele lance esses albuns digitalmente à nivel mundial. Já passamos por essa fase e nada melhor do que ajudar os amigos que estão iniciando a colocar os discos deles em voga. É uma forma de iniciar, também fomos assim, lançando independente, depois assinamos com uma gravadora que só lançava no formato digital e isso despertou o interesse das gravadoras físicas e aí abriu outras portas lá fora. Tudo são degraus na vida, pra alçar voos mais altos temos que subir um degrau de cada vez. A gente na Still Metal-Press, essa pequena agência que eu tenho, só digital no facebook, eu ajudo algumas bandas e músicas a subir esses degraus e alavancar um pouco a carreira, conseguindo assinar com essa gravadora italiana. Deixo até um convite pra quem tiver uma banda de Metal, Hard Rock a entrar em contato conosco, a gente tem essa parceria com a Heart of Steel que lança apenas o material digital. Enfim, acho que é um grande início pra uma banda investir num material de streaming, porque tentar lançar o material físico em primeiro lugar não sei se é uma boa... a não ser que se lance independente, porque tem gente que vai aceitar, que gosta. Mas tentar um selo de início é meio complicado.

Bruxa Velha Zine: A entrevista está chegando ao fim. Luis, foi uma honra tê-lo conosco em nossa primeira edição ! Sinta-se a vontade para falar o que quiser aos leitores, ou ainda comentar algo que deseje sobre a Krull.

Luis – Primeiramente, muito obrigado pela entrevista, nós da Krull agradecemos muito o espaço que vocês cederam para mostrar o nosso humilde e único trabalho, agradecemos de coração a todos os irmãos que acompanham o Bruxa Velha Zine. Sei que é a primeira edição e tenho certeza que será um sucesso, será muito bacana. Sentimos muito orgulho e ficamos honrados em saber que vamos participar disso, pois tenho certeza que ainda haverá mais números. Ficamos muito honrados em saber que grandes guerreiros como vocês estão apostando numa nova iniciativa para dar identidade e abrir portas para bandas iniciantes ou bandas que estão na metade do caminho, sem perder o contexto e essa magia dos anos 80 e 90, onde o pessoal transcrevia todas as entrevistas por carta, por correspondência, manualmente ou até em máquina de escrever, isso é muito legal, poder tomar essa iniciativa de abrir as portas para bandas independentes sejam daqui ou lá de fora, resgatar essa essência, essa magia de antigamente, muito difícil alguém que possa apostar e se dedicar ao tempo em poder fazer isso, vocês são guerreiros pois são poucos que tem a coragem e a bravura de fazer o que vocês se propõe. Uma honra pra todos nós aqui. Mais uma vez obrigado pelo espaço cedido, obrigado a todos os leitores que acompanham o trabalho do Bruxa Velha, quem quiser conhecer mais sobre a Krull, temos o facebook, só digitar tudo maiúsculo e vai achar a página da banda, no youtube o canal e tem o meu perfil pessoal, Luis Carlos Domingo. Obrigado a todos que acompanham o trabalho da Krull e do Bruxa Velha Zine ! Em breve poderemos estar fazendo uma tour e nos conhecendo pessoalmente. Grande abraço a todos e stay Metal !!


KRULL É :

Jica Pelegrino - Guitarra
Cido Barbosa - Guitarra
Guilherme Heman - Baixo
Alexandre Bury - Bateria
Luis Domingos - Vocal

Contato :

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