terça-feira, 21 de janeiro de 2020

BEYOND CHAOS - ENTREVISTA (DEZEMBRO DE 2019)




O cenário das “one-man bands” no metal nacional e internacional ganhou um espaço destacável nos últimos anos. Se antigamente, Quorthon com o seu imortal Bathory, e o controverso Varg Vikernes, com o Burzum, eram uma das poucas referências nesse formato, com o advindo de mais e mais recursos e possibilidades, mais pessoas passaram a tocar seus projetos musicais sem, no entanto, formar um grupo completo. É o caso de Thiago Alboneti, que resolveu remar contra a maré e fazer um vigoroso Death Metal com a Beyond Chaos, que acaba de lançar seu debut “The Mind Trauma” nas plataformas de streaming.

Bruxa Velha Zine: Primeiramente, como vai, Thiago? Comente a gênese da Beyond Chaos. Você teve intenção de ser uma One-man band desde o início ou tentou formar uma banda convencional antes de resolver gravar tudo por si próprio?

Thiago – Olá, primeiro obrigado pela oportunidade de divulgação do meu primeiro trabalho. Fico muito grato com isso. Na verdade, eu tinha a intenção de formar uma banda, isso começou lá por 2012, mas eu nunca achava as pessoas certas, ou se quer achava alguém que tivesse a mesma visão e direcionamento musical que o meu. Nessa época eu fiquei muito frustrado, pois eu já tinha músicas inteiras prontas, que inclusive reaproveitei alguns riffs da época. Quando chegou o ano de 2019 eu resolvi voltar a compor, e como já havia estudado, lido e visto vídeos sobre técnicas de vocal gutural e rasgado, eu decidi que eu mesmo iria gravar, já que não achava ninguém. Gravei a primeira demo da Doomsday Bringer e tive um resultado satisfatório. Foi então que cai de cabeça no projeto que até então não tinha um nome. Ele só surgiu depois de eu ter umas 3 músicas gravadas.

Bruxa Velha Zine - Você chegou a divulgar a demo para mais alguém ou apenas se convenceu de que tinha um bom material em mãos?

Thiago – Eu cheguei a mostrar para alguns poucos amigos que me incentivaram a continuar. Para você ter uma ideia, eu não tinha nem um microfone e gravei com um headset de computador (risos). Foi mais uma experiência mesmo para ver como seria gravar os vocais e mixar eles, pois eu nunca havia feito isso. A gravação vocal não era das melhores, mas para uma primeira tentativa havia ficado legal. Hoje em dia essa demo nem existe mais, pois deletei a track de vocal principal dela e regravei com melhor qualidade, como podem conferir no álbum The Mind Trauma.

Bruxa Velha Zine - É uma pena que a demo não exista... quanto mais precárias as condições, mais pesadas ficam. Então, o conceito de one-man band vem crescendo bastante no Brasil e no mundo. Não é difícil ver lançamentos de extrema qualidade sendo produzidos por apenas um músico. Você acha que isso é um reflexo dos tempos atuais, onde as pessoas se isolam mais e não se interessam tanto em sair para tocar com um grupo?

Thiago – Acho que nesse quesito temos 2 pontos:

1 - A falta de pessoas interessadas em levar algo a sério, em vista que aqui no Brasil nosso espaço como músicos e bandas amadoras são escassos. Vemos bares e casas de shows focando em apenas bandas covers e com isso as bandas autorais ficam de lado. E isso também é culpa do próprio fã, que não corre atrás de algo novo para se ouvir. Preferem ficar ouvindo Fear of the Dark e Enter Sadman pelo resto da vida e depois reclamam que não existe coisa boa e nova dentro do metal.

2 - Muitas vezes é a falta de tempo mesmo dos músicos, porque muitos de nós temos empregos simples e normais, e infelizmente não podemos deixar tudo de lado e cair na estrada como foram bandas aclamadas nos anos 80, era outro tempo, tudo era novidade. Então as pessoas curiosas com aquilo iam em shows, bares, tinha o marketing boca a boca. Então acho que juntando isso, algumas pessoas optam por tocarem sozinhas e em seu tempo, sem pressa ou pressão.

Bruxa Velha Zine: Você mencionou uma questão interessante. Embora eu não concorde com isso, é inegável que na visão de muitas pessoas ser um músico numa banda cover é mais vantajoso do que numa banda autoral, uma vez que sempre haverá público para ouvir Guns N' Roses ou Metallica. Você tocaria numa banda cover se fosse chamado?

Thiago - Não vou ser hipócrita, eu já toquei em um cover de Iced Earth durante um tempo, mas isso foi por meados de 2006/2009. Eu era mais novo, outra cabeça, não tinha o conceito de composição e nem queria também. Eu só queria subir no palco e tocar as músicas da minha banda favorita na época. Hoje em dia eu não entraria em uma banda cover, poderia gravar ou participar de alguma música de outra banda, mas entrar em cover não mais. Me sentiria roubando o espaço de tantos outros músicas e bandas que estão na mesma luta que eu. Eu prefiro estar lutando por espaço junto com essas bandas e artistas do que furar a fila e tomar um público que poderia ser deles. Há espaço para todos nós, existem muitas bandas boas que só precisam de oportunidade. E é exatamente isso o que não temos e temos que derrubar litros de suor para que alguém ouça pelo menos uma música nossa.



Bruxa Velha Zine: Vamos falar sobre The Mind Trauma. Eu não tive acesso a todas as letras, e por isso a curiosidade. Quais são os conceitos mais presentes nas músicas? Você quis fugir dos clichês do Death Metal como gore ou satanismo?

Thiago – Olha, do gore não muito, mas do satanismo eu não entro no assunto. E não é por uma questão de fé, eu sou ateu, então eu vejo essas coisas em letras mais como liberdade artística do que uma afronta a qualquer religião. As letras em si falam sobre histórias de terror ou até temas pessoas e pesados, como na música The Last Minute que conta a história de um homem com depressão e que ninguém se importava, até ele dar um tiro na própria cabeça. Tem letras também como a Ghost of my Dreams onde um homem tinha sonhos com uma mulher que induzia ele a matar, e quando ele acordava ele não sabia o que havia acontecido, não sabia que era ele. Até a entidade tomar conta de seu corpo e ele perceber que ele realmente foi feito para matar. É como Norman Bates em Psicose, que assume a personalidade de sua mãe morta e não responde pelos seus atos.

Bruxa Velha Zine: Você optou por distribuir « The Mind Trauma » nas plataformas de streaming como Deezer e Spotify. Thiago, você ainda acha que é vantajoso investir em mídias físicas ? Acha que esse mercado ainda tem futuro ?

Thiago – Acho tão vantajoso quanto prazeroso. Nada supera você ter alí algo físico em mãos, aquele "cheiro de novo". E fora a parte que colecionar CDs e vinis é sensacional. O fã de metal adora essas coisas, e mesmo ele tendo o material físico em mãos, ele também não vai deixar de ouvir o digital pelo fácil acesso. Tenho orgulho do fã de metal, são os mais fiéis do mundo. Ainda consomem o material inteiro de seu artista ou banda favorita. Desde camisa, discos ou algum outro merchandise. Somos praticamente o único público que ouve álbuns inteiros e na íntegra, apreciamos cada música de forma única. E isso é raro hoje em dia no meio de tanta música enlatada onde ninguém lança álbuns, apenas algumas músicas para fazer aquele sucesso que dura 1 mês. Eu só optei pela distribuição digital por questões financeiras mesmo. Não tenho contato ou patrocínio de nada e ninguém. A única coisa que tenho é uma guitarra e um computador (muitos risos).

Bruxa Velha Zine : Voltando a falar sobre one-man bands, retomo o fato de que esse tipo de projeto está em ascensão não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Entretanto, se torna inviável a realização de apresentações ao vivo. Você já imaginou tocar as músicas da Beyond Chaos numa possivel turnê, com músicos de apoio?

Thiago – Um amigo meu até disse que se dispõe a tocar bateria caso eu quisesse tocar essas músicas ao vivo. Mas na verdade eu não sei ao certo, não tenho isso em mente, ao menos não agora. Fico em cima do muro quanto a isso. Banda é algo que da muito trabalho, e eu sei que sou uma pessoa muito chata quanto a isso. Eu gosto das coisas do meu jeito, mas é uma idéia legal sim de se tocar as músicas ao vivo. Como eu disse, eu só optei por fazer tudo sozinho por falta de pessoas mesmo. Talvez até encontre músicos para isso, mas aí vem o problema da falta de tempo.

Bruxa Velha Zine: Acho que as músicas ficariam verdadeiramente brutais! Conte-nos um pouco mais sobre a capa do The Mind Trauma. Ela difere da maioria das capas de Death Metal lançadas atualmente por ser um desenho de aspecto mais new school, ao invés das ilustrações computadorizadas. Foi você mesmo quem a criou ?

Thiago – Sim, as músicas ficariam bem pesadas. Quem sabe um dia não tenhamos essa experiência. Sobre a capa, quem fez ela foi um amigo meu chamado Danilo Sousa. Ele é um desenhista espetacular. Conheço ele do trabalho e sabia que ele curtia umas bandas pesadas, mas quando vi seu seus desenhos pela primeira vez eu fiquei realmente impressionado. Quando comecei o projeto Beyond Chaos (que ainda não tinha um nome) ele foi uma das primeiras pessoas que falei, e que queria que ele fizesse a capa, ele topou na hora. Apenas me pediu algum conceito do que eu queria, eu disse que queria algo relacionado a loucura e foi pra ele que eu enviava todas as músicas que fazia em primeiro lugar. Pra ele tentar vizualizar algo em cima daquilo. Foi então que ele me apresentou esse desenho, com a caveira em uma camisa de força, remetente a loucura e caos. Eu simplesmente adorei.

É realmente diferente e chama muita atenção pelas cores vivas, aos invés dos tons mais cinzas ou escuros que as bandas de Death Metal costumam usar. A entrevista está chegando ao fim, se sinta livre para tecer um comentário aos leitores ou algo que ainda ache necessário dizer sobre a Beyond Chaos.

Thiago   Novamente obrigado pela oportunidade, e espero que, assim como muitas outras bandas, consiga meu espaço. Aos leitores, ouçam meu trabalho, não vão se decepcionar, e obrigado a cada um de vocês

Stay death!

Contato - https://www.facebook.com/thiago.alboneti.50

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Entrevista retirada da versão impressa do Bruxa Velha Fanzine;

Todos os direitos reservados à Thiago Albonetti e Beyond Chaos. 

 

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