O
cenário das “one-man bands” no metal nacional e internacional ganhou um espaço
destacável nos últimos anos. Se antigamente, Quorthon com o seu imortal
Bathory, e o controverso Varg Vikernes, com o Burzum, eram uma das poucas
referências nesse formato, com o advindo de mais e mais recursos e
possibilidades, mais pessoas passaram a tocar seus projetos musicais sem, no
entanto, formar um grupo completo. É o caso de Thiago Alboneti, que resolveu
remar contra a maré e fazer um vigoroso Death Metal com a Beyond Chaos, que
acaba de lançar seu debut “The Mind Trauma” nas plataformas de streaming.
Bruxa
Velha Zine: Primeiramente, como vai, Thiago? Comente a gênese da Beyond Chaos.
Você teve intenção de ser uma One-man band desde o início ou tentou formar uma
banda convencional antes de resolver gravar tudo por si próprio?
Thiago
– Olá, primeiro obrigado pela oportunidade de divulgação do meu primeiro
trabalho. Fico muito grato com isso. Na verdade, eu tinha a intenção de formar
uma banda, isso começou lá por 2012, mas eu nunca achava as pessoas certas, ou
se quer achava alguém que tivesse a mesma visão e direcionamento musical que o
meu. Nessa época eu fiquei muito frustrado, pois eu já tinha músicas inteiras
prontas, que inclusive reaproveitei alguns riffs da época. Quando chegou o ano
de 2019 eu resolvi voltar a compor, e como já havia estudado, lido e visto
vídeos sobre técnicas de vocal gutural e rasgado, eu decidi que eu mesmo iria
gravar, já que não achava ninguém. Gravei a primeira demo da Doomsday Bringer e
tive um resultado satisfatório. Foi então que cai de cabeça no projeto que até
então não tinha um nome. Ele só surgiu depois de eu ter umas 3 músicas
gravadas.
Bruxa
Velha Zine - Você chegou a divulgar a demo para mais alguém ou apenas se
convenceu de que tinha um bom material em mãos?
Thiago
– Eu cheguei a mostrar para alguns poucos amigos que me incentivaram a
continuar. Para você ter uma ideia, eu não tinha nem um microfone e gravei com
um headset de computador (risos). Foi mais uma experiência mesmo para ver como
seria gravar os vocais e mixar eles, pois eu nunca havia feito isso. A gravação
vocal não era das melhores, mas para uma primeira tentativa havia ficado legal.
Hoje em dia essa demo nem existe mais, pois deletei a track de vocal principal
dela e regravei com melhor qualidade, como podem conferir no álbum The Mind
Trauma.
Bruxa
Velha Zine - É uma pena que a demo não exista... quanto mais precárias as
condições, mais pesadas ficam. Então, o conceito de one-man band vem crescendo
bastante no Brasil e no mundo. Não é difícil ver lançamentos de extrema
qualidade sendo produzidos por apenas um músico. Você acha que isso é um
reflexo dos tempos atuais, onde as pessoas se isolam mais e não se interessam
tanto em sair para tocar com um grupo?
Thiago
– Acho que nesse quesito temos 2 pontos:
1 -
A falta de pessoas interessadas em levar algo a sério, em vista que aqui no
Brasil nosso espaço como músicos e bandas amadoras são escassos. Vemos bares e
casas de shows focando em apenas bandas covers e com isso as bandas autorais
ficam de lado. E isso também é culpa do próprio fã, que não corre atrás de algo novo para se ouvir. Preferem ficar
ouvindo Fear of the Dark e Enter Sadman pelo resto da vida e depois reclamam
que não existe coisa boa e nova dentro do metal.
2 -
Muitas vezes é a falta de tempo mesmo dos músicos, porque muitos de nós temos
empregos simples e normais, e infelizmente não podemos deixar tudo de lado e
cair na estrada como foram bandas aclamadas nos anos 80, era outro tempo, tudo
era novidade. Então as pessoas curiosas com aquilo iam em shows, bares, tinha o
marketing boca a boca. Então acho que juntando isso, algumas pessoas optam por
tocarem sozinhas e em seu tempo, sem pressa ou pressão.
Bruxa
Velha Zine: Você mencionou uma questão interessante. Embora eu não concorde com
isso, é inegável que na visão de muitas pessoas ser um músico numa banda cover
é mais vantajoso do que numa banda autoral, uma vez que sempre haverá público para
ouvir Guns N' Roses ou Metallica. Você tocaria numa banda cover se fosse
chamado?
Thiago
- Não vou ser hipócrita, eu já toquei em um cover de Iced Earth durante um
tempo, mas isso foi por meados de 2006/2009. Eu era mais novo, outra cabeça,
não tinha o conceito de composição e nem queria também. Eu só queria subir no
palco e tocar as músicas da minha banda favorita na época. Hoje em dia eu não
entraria em uma banda cover, poderia gravar ou participar de alguma música de
outra banda, mas entrar em cover não mais. Me sentiria roubando o espaço de
tantos outros músicas e bandas que estão na mesma luta que eu. Eu prefiro estar
lutando por espaço junto com essas bandas e artistas do que furar a fila e
tomar um público que poderia ser deles. Há espaço para todos nós, existem
muitas bandas boas que só precisam de oportunidade. E é exatamente isso o que
não temos e temos que derrubar litros de suor para que alguém ouça pelo menos
uma música nossa.
Bruxa
Velha Zine: Vamos falar sobre The Mind Trauma. Eu não tive acesso a todas as
letras, e por isso a curiosidade. Quais são os conceitos mais presentes nas
músicas? Você quis fugir dos clichês do Death Metal como gore ou satanismo?
Thiago – Olha, do
gore não muito, mas do satanismo eu não entro no assunto. E não é por uma
questão de fé, eu sou ateu, então eu vejo essas coisas em letras mais como
liberdade artística do que uma afronta a qualquer religião. As letras em si
falam sobre histórias de terror ou até temas pessoas e pesados, como na música
The Last Minute que conta a história de um homem com depressão e que ninguém se
importava, até ele dar um tiro na própria cabeça. Tem letras também como a
Ghost of my Dreams onde um homem tinha sonhos com uma mulher que induzia ele a
matar, e quando ele acordava ele não sabia o que havia acontecido, não sabia
que era ele. Até a entidade tomar conta de seu corpo e ele perceber que ele
realmente foi feito para matar. É como Norman Bates em Psicose, que assume a
personalidade de sua mãe morta e não responde pelos seus atos.
Bruxa
Velha Zine: Você optou por distribuir « The Mind Trauma » nas
plataformas de streaming como Deezer e Spotify. Thiago, você ainda acha que é
vantajoso investir em mídias físicas ? Acha que esse mercado ainda tem
futuro ?
Thiago – Acho tão
vantajoso quanto prazeroso. Nada supera você ter alí algo físico em mãos,
aquele "cheiro de novo". E fora a parte que colecionar CDs e vinis é
sensacional. O fã de metal adora essas coisas, e mesmo ele tendo o material
físico em mãos, ele também não vai deixar de ouvir o digital pelo fácil acesso.
Tenho orgulho do fã de metal, são os mais fiéis do mundo. Ainda consomem o
material inteiro de seu artista ou banda favorita. Desde camisa, discos ou
algum outro merchandise. Somos praticamente o único público que ouve álbuns inteiros
e na íntegra, apreciamos cada música de forma única. E isso é raro hoje em dia
no meio de tanta música enlatada onde ninguém lança álbuns, apenas algumas
músicas para fazer aquele sucesso que dura 1 mês. Eu só optei pela distribuição
digital por questões financeiras mesmo. Não tenho contato ou patrocínio de nada
e ninguém. A única coisa que tenho é uma guitarra e um computador (muitos
risos).
Bruxa
Velha Zine : Voltando a falar sobre one-man bands, retomo o fato de que
esse tipo de projeto está em ascensão não apenas no Brasil, mas no mundo todo.
Entretanto, se torna inviável a realização de apresentações ao vivo. Você já
imaginou tocar as músicas da Beyond Chaos numa possivel turnê, com músicos de
apoio?
Thiago – Um amigo
meu até disse que se dispõe a tocar bateria caso eu quisesse tocar essas
músicas ao vivo. Mas na verdade eu não sei ao certo, não tenho isso em mente,
ao menos não agora. Fico em cima do muro quanto a isso. Banda é algo que da
muito trabalho, e eu sei que sou uma pessoa muito chata quanto a isso. Eu gosto
das coisas do meu jeito, mas é uma idéia legal sim de se tocar as músicas ao
vivo. Como eu disse, eu só optei por fazer tudo sozinho por falta de pessoas
mesmo. Talvez até encontre músicos para isso, mas aí vem o problema da falta de
tempo.
Bruxa
Velha Zine: Acho que as músicas ficariam verdadeiramente brutais! Conte-nos um
pouco mais sobre a capa do The Mind Trauma. Ela difere da maioria das capas de
Death Metal lançadas atualmente por ser um desenho de aspecto mais new school,
ao invés das ilustrações computadorizadas. Foi você mesmo quem a criou ?
Thiago – Sim, as
músicas ficariam bem pesadas. Quem sabe um dia não tenhamos essa experiência.
Sobre a capa, quem fez ela foi um amigo meu chamado Danilo Sousa. Ele é um
desenhista espetacular. Conheço ele do trabalho e sabia que ele curtia umas
bandas pesadas, mas quando vi seu seus desenhos pela primeira vez eu fiquei
realmente impressionado. Quando comecei o projeto Beyond Chaos (que ainda não
tinha um nome) ele foi uma das primeiras pessoas que falei, e que queria que
ele fizesse a capa, ele topou na hora. Apenas me pediu algum conceito do que eu
queria, eu disse que queria algo relacionado a loucura e foi pra ele que eu
enviava todas as músicas que fazia em primeiro lugar. Pra ele tentar vizualizar
algo em cima daquilo. Foi então que ele me apresentou esse desenho, com a
caveira em uma camisa de força, remetente a loucura e caos. Eu simplesmente
adorei.
É
realmente diferente e chama muita atenção pelas cores vivas, aos invés dos tons
mais cinzas ou escuros que as bandas de Death Metal costumam usar. A entrevista
está chegando ao fim, se sinta livre para tecer um comentário aos leitores ou
algo que ainda ache necessário dizer sobre a Beyond Chaos.
Thiago – Novamente obrigado pela oportunidade, e espero que, assim como muitas outras
bandas, consiga meu espaço. Aos leitores, ouçam meu trabalho, não vão se
decepcionar, e obrigado a cada um de vocês
Stay
death!
Contato
- https://www.facebook.com/thiago.alboneti.50
https://www.facebook.com/BeyondOfficialChaos/
https://open.spotify.com/album/3OAbWvDOgoovBQS80pTmbG?si=81w0XJaSS1WUv2-0VH81HA
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