sexta-feira, 4 de setembro de 2020

RESENHA – GEFRORENE FEE – SCHNEEGEIST (2020)

 

RESENHA EXCLUSIVA PARA O BLOG DO BRUXA VELHA ZINE


Mais um disco de Atmospheric Black Metal pra lista de resenhas do Bruxa Velha Zine. Esse é um meio do metal bastante prolífico e de qualidade elevada – muitas bandas/projetos/one-man bands surgem com essa proposta e lançam álbuns muito satisfatórios de se escutar.

O álbum aqui resenhado pertence ao projeto de nacionalidade mista Gefrorene Fee. Digo nacionalidade mista pois dois dos três membros são brasileiros e o restante, sueco. Os vocais ficam por conta de Weird, responsável também pela one-man band Frozen Dreams (vale a pena conhecer). Não é a toa que a sonoridade entre ambos os projetos tenha tanta similaridade, mas a verdade é que os vocais dele no Gefrorene Fee me parecem ainda mais melancólicos e dramáticos. Skymning e Auztaroth são os brasileiros e fundadores – o primeiro cuida das guitarras e dos contrabaixos, enquanto o segundo assumiu os sintetizadores e a programação da bateria.

“Gefrorene Fee”, traduzido para o nosso português, significa algo próximo de “Fada Congelada”. Isso me fez evocar uma imagem interessante – Fadas e outras criaturas místicas representam sonhos de infância, de inocência, que acabam sendo consumidos inteiramente pela sonoridade fria, agressiva, mas onírica, traduzida principalmente pelos teclados de Auztaroth, que por vezes simulam o som de uma caixinha de música infantil. Isso aproxima esses universos tão distintos e consequentemente aproxima mais o ouvinte das músicas. E a capa lembra muito os conceitos do clássico Agalloch, que acreditamos ser uma influência latente. “Shcneegeist” foi lançado num belo formado digipack em junho de 2020 e possui distribuição mundial pela GSP Records, portanto, se você escutar e gostar do disco após a resenha compre-o!.

Indo para a parte musical, os destaques ficam por conta de Auztaroth e os teclados sagazes que ele inclui nos arranjos e isso contribui com a carga dramático-emotiva das músicas. As guitarras de Skymning são bastante simples, em algumas partes bastante repetitivas, inclusive, mas não é uma crítica. Fez bem a sonoridade que não fossem colocadas como protagonistas. Acompanhadas dos teclados, elas ganham força e funcionam bem como um elemento de apoio nas atmosferas gélidas. E os vocais de Weird, ora limpos e graves, ora rasgados, trazem às estruturas da música muita riqueza de dinamismo e variação. A única crítica vai para o som da bateria, que ficou um tanto aquém da sonoridade dos outros instrumentos. Poderia ter sido mixada um pouco mais alta – evitaria a impressão de som magro e, em algumas partes, robótico que ela possuiu no final. No próximo álbum, quem sabe, isso seja corrigido.

Entre os destaques de “Schneegeist”, posso apontar “Storm Grimm”, com um ótimo trabalho de Weird nos vocais e um sintetizador assombroso. A faixa título é talvez a melhor do disco! Que linda introdução! Que variações rítmicas bem pensadas! O bom gosto dessa composição é realmente notável. A faixa de abertura, “Stilleben”, também é incrível e convidativa – se você gostar dela, gostará de todo o álbum.

Para finalizar, Gefrorene Fee é um projeto bastante interessante e bem prodigioso – uma grata surpresa de disco para se ouvir nessa época de pandemia. A equipe do Bruxa Velha Zine não apenas gostou do que ouviu, como está curiosa para conferir outros lançamentos, mais maduros, vindos desses músicos. Se você gosta de Black Metal atmosférico, não se arrependerá em colocar “Schneegeist” em sua prateleira.


GEFRORENE FEE É:

Weird – Vocais, letras

Skymning - Guitarras, Contrabaixo

Auztaroth - Sintetizadores, Bateria (Programada)

 

Facebook: https://www.facebook.com/gefrorene.fee/

Bandcamp: https://gefrorene-fee.bandcamp.com/

Adquira o álbum Digital aqui: https://gefrorene-fee.bandcamp.com/album/schneegeist

Adquira o CD físico aqui: https://gsproduction.bandcamp.com/album/schneegeist

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

FAR FROM EVERYTHING - AO OLHAR PARA O CÉU EU VEJO SURGIR UM RAIO DE LUZ (2020)

 
RESENHA EXCLUSIVA PARA O BLOG DO BRUXA VELHA ZINE



 

Longe de tudo... longe de todos... longe do mundo. É assim que a maioria das pessoas, ou pelo menos, todas aquelas que se identificam com uma contracultura ou possuem visões diferentes das impostas pelo senso comum da sociedade já sentiram. Não é a toa que tantos movimentos urbanos, artísticos e musicais surgem por aí desde o já longínquo século XX. “Longe de tudo” é exatamente a tradução do nome dessa interessante one-man band que acaba de lançar o disco aqui resenhado, intitulado ”Ao olhar para o céu eu vejo surgir um raio de luz”. Essa frase me fez refletir sobre alguns pontos de vista, alguns mais negativos, pessimistas, outro mais positivo, otimista. Mas foi ao escutar as 8 músicas que percebi que não havia chances do segundo estar sendo retratado. Edmilson, mentor da FFE, era também tecladista dos projetos Spitzer Estelares, Fog, e Lúgubre Sonata – um homem com um interessante currículo.

Não espere por Black Metal dissonante, por gritos rasgados nem rugidos guturais. Aqui, tudo é mais Dark Ambient/Dungeon Synth que Metal em si. E isso é muito bom – as emoções transmitidas pela produção (propositalmente?) de som reverberado, distante, que muito lembra as antigas gravações de fita k-7 e é uma regra no que diz respeito aos discos clássicos de Dungeon Synth.



É difícil transcrever em palavras essas músicas. Isso é, cada uma delas tem uma atmosfera – elas não buscam passar mensagens, mas sim transcender a novos ambientes, provocar a imaginação. É um tipo de música que cria contextos, cenários, a partir do momento em que se escuta – a minha favorita do disco e exatamente a última, intitulada de “A noite fria”, tem melodias simples, que se arrastam ao longo dos minutos e que completam o ambiente de uma sala escura, num dia chuvoso e privado de companhias... já outras músicas possuem outras marcas. “O silêncio Noturno” possui algumas sonoridades típicas de criaturas noturnas, como lobos uivando, barulhos distantes e confusos de pianos e sinetas, graves repentinos – algo muito mais horrífico e amedrontador que depressivo. “Sozinho caminho na noite sem destino” reúne um pouco desses dois mundos, e a faixa título, que abre o álbum, é a única que traz algumas guitarras distorcidas e arranjos de metal, que me lembram uma outra entidade do Black/Folk Ambient também brasileira – Altú Págánach (se não conhecer, vale a pena pesquisar).

Escutar um disco de Dungeon Synth/Dark Ambient é uma tarefa verdadeiramente prazerosa pra equipe do Bruxa Velha Zine. Absorver a proposta do Far From Everything foi fácil – aqui temos em forma de música e melodia as representações da mente de um compositor inquieto, que traduziu suas perturbações em 8 peças coesas, que falam por si só. Um álbum para se escutar com atenção, com as músicas na ordem ou não, uma vez que não há uma história a ser contada, não há uma linha tênue a ser seguida, e sim cenas, mórbidas, depressivas, angustiantes ou heroicas a serem imaginadas a partir do subconsciente de cada ouvinte.      

 

FAR FROM EVERYTHING É:

EDMILSON BEZERRA – TODOS OS INSTRUMENTOS

YOUTUBE: https://www.youtube.com/watch?v=882PD0g4n54

https://www.youtube.com/channel/UC_JrarA7XJ0werJiljOi4BQ/videos

Twitter: https://twitter.com/FarEverything

Instagram: https://www.instagram.com/edarkambiente/

Bandcamp: https://farfromeverything.bandcamp.com/

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

FUNERAL DAWN - INNER DEMONS (2020) RESENHA

 

RESENHA EXCLUSIVA PARA O BLOG DO BRUXA VELHA ZINE



Doom Metal, Doom Metal, Doom Metal! É gratificante de ver mais e mais lançamentos nessa vertente sendo lançados. Não é nenhum segredo que a música lenta, arrastada e fúnebre é bastante apreciada pela equipe do Bruxa Velha Zine. E é uma grande honra poder ter recebido, em primeira mão do mentor desse grandioso projeto, um presskit exclusivo com o álbum completo e informações que serão explanadas aqui nessa resenha.

“Alvorecer fúnebre”. O título desse projeto, criado por Thiago Albonetti (também o responsável pela máquina de Death Metal Beyond Chaos, que já esteve presente no Bruxa Velha Zine em diversas oportunidades), é provocativo, e resume perfeitamente o luto maldito que cada uma das músicas de “Inner Demons” traz. Mas se você tem contato com o Death Metal ríspido e ultra veloz que Thiago compõe em tempo recorde (o cara lançou 3 álbuns em 6 meses!), que fique claro: o Funeral Dawn não traz absolutamente NADA disso. O que temos aqui é um Doom Metal lento, macabro, com alguns riffs brutos, sim, mas que em nenhum momento lembram os ataques dissonantes do outro projeto. É tudo morbidamente belo, tocante, gélido como uma brisa descrita em qualquer poema de Lord Byron ou Baudelaire.



As influências, segundo o próprio Thiago, vieram das escutas de álbuns de grupos consagrados, tais quais Doom VS, Draconian e os brasileiros do Jupiterian. Com uma escola dessas, não é de se espantar a carga de peso misturada com doses de melancolia poética. O disco abre com Let the Candle Burn, vinheta com uma sonoridade bastante macabra que precede a música que talvez seja o grande destaque do álbum: “My Funeral”. Um piano grosso, misterioso, introduz uma das melodias Doom mais pesadas compostas ultimamente. Que maneira incrível de se começar um álbum! O interlúdio com cantos gregorianos na metade da música também vai satisfazer os amantes de atmosferas etéreas/oníricas. Os vocais de Thiago também se apresentam mais profundos, ecoados que nos lançamentos da Beyond Chaos.

“If I could...” prossegue com riffs agoniantes, dissonantes, e um teclado muito sombrio que lembram bastante composições tais como Symphony of the Dead, do Therion, do excelente Beyond Sanctorum, de 1992. Uma das minhas preferidas do disco – uma composição de mais de 9 minutos que passa rapidamente. E aqui vemos algumas influências mais death metálicas, que descambam sempre para a melancolia.

A faixa título “Inner Demons” e a quinta música, “Regret of a Man” possuem as duas introduções muito dinâmicas e os pedais duplos acompanham os riffs com as notas em terça e oitava, gerando em cada uma delas levadas matadoras bem ao estilo das velhas hordas doom metálicas como o Paradise Lost e o My Dying Bride em seus primeiros álbuns. E ainda estamos somente na metade do disco, percebendo que Thiago também é um ótimo compositor de arranjos acústicos. Impossível não se impressionar com os minutos finais de “Inner Demons”, com uma guitarra abafada acompanhada de lindas melodias de teclado e piano e com a impostação dos vocais de “Regret of a Man” – um tapa na cara de quem diz que cantos guturais não conseguem passar emoções vívidas como as exprimidas num canto limpo.

“Castle of Sorrow” e “Another Winter Let Falls” encerram o álbum de maneira maestral. A primeira inicia com um show de vocais gregorianos, belíssimos, e guitarras melancólicas. As progressões de acorde são emocionantes, e ela rivaliza com “My Funeral” o título de música mais depressiva do álbum. É de se sentir hipnotizado pelas melodias introspectivas e a bateria que martela os ouvidos como se um tiro de pistola estivesse sendo disparado de forma compassada. E a última é o “outro”, que finaliza o álbum com uma melodia gélida e esperançosa, contrastante com todo o negror funéreo que as músicas precedentes apresentam.

Ao terminar a audição, tem-se a certeza de que Thiago encontrou um ponto de equilíbrio nas melodias lentas/atmosféricas. Seu trabalho na Beyond Chaos é fantástico, mas “Inner Demons” mostra um lado bastante maduro desse “nômade músical”, uma vez que ele lança várias coisas sem parar, sempre agregando novos caminhos, novas influências. Pode ser que “Inner Demons” seja o choro de bebê e o canto de cisne da Funeral Dawn; não dá pra ter certeza se esse excelente projeto terá um novo lançamento, ou se Thiago fará algo novo. Mas há uma certeza: esse lançamento está no panteão de um dos melhores discos do Doom Metal nacional no ano de 2020 e um dos melhores que a equipe do Bruxa Velha Zine já pôde ouvir. Selos, prestem atenção! Lancem esse material físico!!    


FUNERAL DAWN É:

Thiago Albonetti - Todos os instrumentos e vozes 


Spotify: https://open.spotify.com/artist/7yyyWhQEouqbEW36ecSNqV?si=_zAyvzqcSfOwr6LACGutJw




quinta-feira, 30 de julho de 2020

RESENHA - SACRAMENTIA – PROPHECIES OF PLAGUE (2020)



RESENHA EXCLUSIVA PARA O BLOG DO BRUXA VELHA ZINE




   Ah, o Bruxa Velha Fanzine está pondo no ar sua primeira resenha exclusiva para o Blog. Momento delicado, o fanzine impresso está parado – com a pandemia e dificuldades, a chegada do segundo número talvez possa demorar um pouco mais. Mas isso não é motivo, nem problema para que se possa escutar sempre uma coisa nova, um novo álbum. O Metal nunca para, é um fato, mesmo sob chuva ou sol, com ameaça de vírus, bomba nuclear, ou seja lá o que for.

   É uma honra que o primeiro álbum resenhado nessa seção seja um lançamento tão bem cuidado, seja no quesito gráfico, seja no quesito sonoro – e o que é mais impressionante é que não estamos tratando de uma banda com anos de carreira. Esse disco é apenas o debut, e é tão impressionante que faz pensar verdadeiramente no arsenal sonoro que ainda será oferecido pelo SACRAMENTIA.
Impossível escolher um nome melhor para uma banda de Thrash/Death metal. Pronunciado SacramenTIA, (com ênfase na última sílaba), o nome é uma junção das palavras SACRA (radical latino que nos indica algo ironicamente “sagrado”) e DEMENTIA (preciso mesmo explicar o significado disto, ou das duas palavras combinadas?). Os caras estão na estrada e começaram em silêncio, como se não quisessem nada e não quisessem chamar a atenção. E, como um ataque destruidor e bem planejado, os caras lançam uma verdadeira coletânea de socos na cara chamada “Prophecies of Plague”, álbum lançado de maneira independente.

   O Bruxa Velha recebeu o disco um pouco antes da própria banda, e com as constantes audições ao longo do tempo até a escrita dessa resenha, confirmou-se a qualidade de produção (caprichada por Gabriel Costa Netto, guru da Merlin Records) e o poderio sonoro devastador pertencente a esses cinco cavaleiros da destruição death-metálica.



   Não é tarefa fácil escolher os destaques de um disco tão brutal. São 10 faixas realmente muito boas, sem nenhum único momento fraco. Há pauladas como “Scum” (o solo, com d-beats na bateria, é um convite ao mosh) e “Black Psalm” (introdução que por algum motivo, me lembra demais os arranjos acústicos do clássico do Sepultura, Desperate Cry) que te fazem querer jogar a cabeleira na frente da cara num headbang violento, assim como há “Necrolust” (já conhecida pelos underground bangers por ter sido lançada como single) e “Falling State of Mind” que são verdadeiramente insanas, com riffs muito bem construídos e vocais demoníacos do vocalista Renan Bezan, que a propósito, foi também o responsável pela confecção de todas as letras. As quebradas de tempo mostram o quanto a cozinha composta por Guilherme Melo (baixo) e Leonardo Michelazzo (bateria) é técnica. As passagens acústicas (com uns efeitos que me lembram muito os clássicos do rock gótico) mostram também grande talento por parte dos guitarristas André Guimarães e Guilherme Mendes – os caras sabem muito mais do que apenas ficar por aí fazendo riffs com tonalidade em Em – mal que assola muito dos “guitarristas” de metal extremo por aí.

   Por fim, é necessário reiterar aquilo que foi dito no início da resenha – é impressionante que esse seja apenas o debut do Sacramentia. Um álbum desses é digno de ser lançado por uma banda com anos de carreira e muito amadurecimento – mesmo os mínimos detalhes estão muito bem ajustados. A capa, mesmo, é uma obra de arte. Cortesia do designer gráfico Aurélio Lara, que já trabalhou com outros grandes nomes da cena underground nacional. Imaginem só o que a experiência pode fazer com a sonoridade desses caras. Ficar ainda mais trabalhada, extrema, complexa, caótica... depende do caminho pelo qual eles irão enveredar. Acho difícil que queiram se manter numa zona de conforto – afinal, foi o esforço que os fez admiravelmente chegarem na cena dando uma voadora de dois pés na porta. E que tenham chegado para ficar! Hail Sacramentia!



SACRAMENTIA É:
André Guimarães; (guitarras);
Guilherme Mendes (guitarras);
Guilherme Melo (baixo);
Leonardo Michelazzo (bateria);
 Renan Bezan (vocalista)

Instagram - @sacramentia.official